"Faz muito tempo desisti de compreender o Brasil. Rio-me, às vezes, de velhas certezas infantis. Não me perguntem se é progresso ou demência progressiva. Tenho deixado os teóricos de lado e me entregue à tentação de ler respostas na festa de angústias das novas gerações.
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Penso essas coisas andando a estrada tormentosa dos versos de Juareiz Correya : Amanhece. / Mas eu sinto que não amanheço.
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O poeta tenta erguer um canto pagão, desmistifica palavras, mergulha-as em banho de lama e sacode na cara de um universo corrupto, que despreza e provoca. Não lhe interessa o amplo coração de Maiakovski, é, apenas, e totalmente sexo, como se acutilasse o sonho de gerar uma humanidade nova, onde a América, por exemplo, não fosse posse de um homem velho como Reagan...
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Não tenho lido mais os teóricos, com sua sabedoria e o seu jogo de astúcias inteligentes. Ando pelas ruas e sinto a gestação de palavras novas, novas e balbuciantes respostas. Poetas jovens surgem da noite, carregam a madrugada em seus versos. No desespero e ceticismo há coisas esplêndidas germinando : Me faço poeta, astronauta / para jogar sobre os continentes meu sorriso de luta."
(DIARIO DE PERNAMBUCO, Recife, 1982)
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Transcrito do livro AMERICANTO AMAR AMÉRICA
E OUTROS POEMAS DO SÉCULO 20
- de Juareiz Correya
(Panamerica Nordestal Editora, Recife, PE, 2010)
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