quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

AMERICANTO AMAR AMÉRICA, de Juareiz Correya

América
mulher de carnes cruas pregadas no meu peito
como colunas de ventos colossais
meus gritos são alegria de tambores
& montanhas de plástico
são doces campos de açúcar
& rios de sangue cheios de troncos negros
queimados na dança dos teus cabelos
que a noite estupra gargalhadando


América
eu me dou com este corpo de criança
que a tua febre come & joga
para os céus dos chacais
meu corpo virgem nas estradas
que a tua volúpia rodopia
além onde estão todas as promessas
para que o meu gozo encha os mares
& enterre todas as florestas
com tempestades de espermatozóides


América
tua alegria me embebeda eu sou teu
deus poeta incandescido no teu ventre
teus olhos brilham poemas terríveis
gaivotas criminosas de Ginsberg
& me enfeitam & me enfeitam
arcoiris de luas gigantescas
empoeiradas nos ruídos das motocicletas
& há tanta doçura na gasolina
matando a sede na minha garganta &
alucinógenos & lírios & violetas & roseiras
& porres de cocaína & rolos de maconha


América América
tua cabeça vomita jovens famélicas
ninfomaníacas crianças sensuais
& doces meninas
brigando sexualmente pela minha carne
espalhada em todos os lugares
em todos os bares
em todas as praias
em todos os cinemas
em todos os caminhos que vão & voltam
em todos os espetáculos
em todas as feiras
em todas as casas minha carne ardente
espalhada sobre as estrelas & a gosma
& os satélites & o câncer
& os automóveis luxuosos & a carniça
& os prazeres financiados & a merda
dos estados unidos


América
eu bebo no teu suor correntes
de petróleo & ouro & loucura
eu sou um doido & bebo êxtase de tua boca
licores estranhos e luxuriantes escorrem
& umedecem-me a pele coberta de ilhas
dos Andes crispada
teu abraço carregadoesmagadormultiplo
como avalanches multi modas coloridas
vermelho azul tuas pernas monstruosas
rasgam os panos de nuvens de galáxias
& me esmagam com todos os desejos
com toda a energia dos teus músculos de ferro
com toda a fúria das tua células famintas
milhões de balas & besouros
guerrilheiros tupamaros estalando nos varais
da república desvairada & pombas brancas
carregadas de dinamites para festas
nas selvas & nos pântanos urbanos


(do livreto
AMERICANTO AMAR AMÉRICA,
Nordestal Editora, Recife, 1975).

Um comentário:

Sandra Paro disse...

esse poema é tão viseral, me atinge o âmago.... forte, contundente, impactante.... e belo, belo....