quinta-feira, 25 de abril de 2019

EM NOME DO BRASIL : "O OUTRO BRASIL QUE VEM AÍ", DE GILBERTO FREYRE






Divulgação do poema  
O OUTRO BRASIL 
QUE VEM AÍ , de Gilberto Freyre 
(Escrito em 1927 e publicado em 1962) 


O OUTRO BRASIL QUE VEM AÍ 


Eu ouço as vozes 
eu vejo as cores 
eu sinto os passos 
de outro Brasil que vem aí 
mais tropical 
mais fraternal 
mais brasileiro. 
O  mapa desse Brasil em vez das cores dos estados  
terá as cores das produções e dos trabalhos. 
Os homens desse Brasil em vez das cores das três raças 
terão as cores das profissões e regiões.  
As mulheres do Brasil em vez das cores boreais  
terão as cores variamente tropicais. 
Todo  brasileiro poderá dizer : é assim que eu quero o Brasil, 
todo brasileiro e não apenas o bacharel ou o doutor, 
o preto, o pardo, o roxo e não apenas o branco e o semibranco. 
Qualquer brasileiro poderá governar 
esse Brasil 
lenhador 
lavrador 
pescador 
vaqueiro 
marinheiro 
funileiro 
carpinteiro 
contanto que seja digno 
do governo 
do Brasil 
que tenha olhos  para ver pelo Brasil, 
ouvidos para ouvir pelo Brasil 
coragem de morrer pelo Brasil 
ânimo de viver pelo Brasil 
mãos para agir pelo Brasil 
mãos de escultor que saibam lidar 
com  o barro forte e novo dos 
Brasis 
mãos de engenheiro que lidem com 
ingresias  e tratores europeus e 
norte-americanos a serviço do Brasil 
mãos sem anéis (que os anéis não  
                      deixam o homem criar nem 
trabalhar), 
mãos livres 
mãos criadoras   
mãos fraternais de todas as cores    
mãos desiguais que trabalhem por 
um Brasil sem Azeredos, 
sem Irineus
 sem Maurícios de Lacerda. 
Sem mãos de jogadores
nem de especuladores nem de 
mistificadores. 
Mãos todas de trabalhadores, 
pretas, brancas, pardas, roxas, morenas, 
de artistas 
de escritores 
de operários 
de lavradores 
de pastores 
de mães criando filhos  
de pais ensinando meninos  
de padres benzendo afilhados  
de mestres guiando aprendizes 
de irmãos ajudando irmãos mais  
 moços 
de lavadeiras lavando 
de pedreiros edificando 
de doutores curando 
de cozinheiras cozinhando 
de vaqueiros tirando leite de vacas 
chamadas comadres dos homens. 
Mãos brasileiras 
brancas, morenas, pretas, pardas, 
roxas 
tropicais 
sindicais 
fraternais.  
Eu ouço as vozes 
eu vejo  as cores 
eu sinto os passos 
desse Brasil que vem aí. 


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Poema incluído no ebook  EM NOME DO BRASIL 
- Antologia Poética do Século 20, organizada por Juareiz Correya, 
a ser lançada no segundo semestre deste ano 
na Ebooks Panamerica  - www.ebookspanamerica.com